Diabetes Mellitus
A Diabetes Mellitus é uma doença endócrina e metabólica que a médio e longo prazo produz importantes lesões vasculares e neurológicas, complexas e multifocais. Estas lesões tornam-se clinicamente evidentes, depois do início da doença e afetam os olhos (retina), os rins, os vasos de grande e médio calibre, as pernas e os pés. Assim sendo, surge como complicação o habitualmente denominado “pé diabético”.
Pé diabético
O pé diabético resulta de um conjunto de complicações neurológicas, vasculares e infeciosas que se associam e influenciam mutuamente. Por isso, é uma das complicações mais graves desta doença, sendo o principal motivo de ocupação de camas hospitalares pelos diabéticos. Para além disso, é responsável por 40 a 60% das amputações efetuadas por causas não traumáticas. Estima-se que nos países ocidentais cerca de 25% da população diabética venha a desenvolver uma úlcera no pé e que a maioria virá a ficar infetada.
O aparecimento destas úlceras constitui um verdadeiro problema de saúde pública e a melhor maneira de lidar com o pé diabético é prevenir as suas complicações. Uma vez surgidas as lesões dever-se-à tratá-las o mais precocemente possível.
Prevenção do pé diabético
Inspecionar periodicamente os pés
A avaliação do estado das unhas e pele (secura, presença de calosidades, gretas ou micoses), presença de edema, deformidades dos dedos ou rigidez articular. Portanto, para uma correta avaliação deve-se comparar os dois pés, procurar aumentos de volume (globais ou localizados) e eventuais sinais inflamatórios, mesmo sem dores.
Realizar uma higiene adequada
A higiene dos pés deve ser feita com água tépida, nunca com água muito quente. Adicionalmente, os pés devem ser bem secos, com pequenos toques, sem friccionar com a toalha.
Remover as calosidades
A remoção de hiperqueratoses e desbridamento de calosidades existentes são muito importantes, uma vez que, estas são responsáveis por uma pressão anormal mantida sobre um ponto do pé. Assim, as pequenas calosidades podem ser tiradas gradualmente com limas de cartão e pedra pomes, com a pele molhada. No entanto, a remoção das calosidades maiores deve ser feita por um especialista qualificado (podólogo). Por último, relembramos que os calos nunca devem ser cortados, nem sujeitos a agentes químicos.
Usar meias e calçado adequados
As meias não devem possuir costuras, nem elásticos. Preferencialmente, devem ser de material absorvente (fibras naturais de algodão ou lã).
Os sapatos podem ocasionar úlceras dorsais, sobretudo nos dedos, por pressão de encarceramento. Portanto, para evitar estas lesões, o sapato deve ter espaço para os dedos, isto é, o sapato deve medir mais um centímetro para além do dedo mais comprido e deve ser suficientemente alto e amplo na ponta. Além disso, a altura do tacão não deve ultrapassar os quatro centímetros, o calcanhar do calçado deve ser firme e o seu dorso deve ser alto, apertando com cordões ou velcro, até próximo da articulação tíbio-társica, contendo o pé, sem deslizamentos durante a marcha. Por último, os diabéticos não devem andar descalços, nem de sandálias para evitar eventuais lesões.
Hidratar bem os pés
Em primeiro lugar, relembramos que o diabético deve evitar aplicar creme entre os dedos para evitar infeções devido à humidade. Portanto, o creme hidratante a aplicar deve melhorar a circulação sanguínea, nutrir a pele em profundidade e restaurar a barreira hidrolipídica da pele, favorecendo a renovação celular. Logo, estes cremes devem ser desprovidos de substâncias que possam agredir a pele. Por isso, na sua composição, entre outros constituintes, devem conter alguns componentes como: glicerina e ácidos gordos (agentes hidratantes e protetores), centelha asiática e manteiga de karité (agentes cicatrizantes).
A farmácia dispõe de inúmeros cremes com estas características e com o aconselhamento do seu farmacêutico poderá adquirir o produto mais adequado para o seus pés.
Não fumar
O tabaco compromete a circulação sanguínea. Logo, o abandono dos hábitos tabágicos é essencial.
Fazer uma avaliação por um profissional de saúde
O doente diabético deve ser convenientemente avaliado por um profissional de saúde no mínimo uma vez no ano.
Controlar a diabetes
Controlar a doença diminui os danos neurológicos e vasculares. Assim, diminui a probabilidade de surgirem complicações.
Praticar atividade física
Por último, caminhar, dançar, nadar são excelentes exercícios que estimulam a circulação e ajudam a controlar os níveis de açúcar no sangue. Logo, inclua estes hábitos na sua rotina diária.
O que questionar ao diabético sobre os seus pés?
Todo o diabético deve ser sistematicamente inquirido sobre sintomas de isquemia dos membros inferiores, tais como, desconforto a andar, coxear ou dor em repouso. Além disso, deverá ser questionado relativamente às queixas neuropáticas, como: adormecimento dos pés, sensação de ardor, queimadura, picadas, formigueiros ou de agulhas debaixo dos pés. Relembramos que, a neuropatia corresponde a uma perturbação do funcionamento das estruturas nervosas e provoca uma redução da sensibilidade à dor, ao frio e ao calor.
Identificação do pé em risco de ulceração
Após avaliação, os doentes devem ser agrupados numa das seguintes categorias de risco:
- Baixo risco – ausência de fatores de risco. O doente deverá manter vigilância anual.
- Médio risco – ausência de neuropatia ou vasculopatia e presença de pelo menos outro fator de risco. O doente deverá ser avaliado de 6 em 6 meses.
- Alto risco – existência de neuropatia ou isquemia. Recomenda-se atenção à presença de úlcera cicatrizada ou amputação prévia. O doente deverá ser avaliado de 1 a 3 meses.
Tratamento das lesões do pé diabético
- Tratamento de lesões não ulceradas – a pele seca, as calosidades e patologias da pele devem ser tratadas e monitorizadas.
- Tratamento de lesões ulceradas – a prioridade é controlar a infeção. O seu desbridamento cirúrgico, o tratamento médico e a obtenção de um bom controlo glicémico, por vezes com insulina, são medidas essenciais para a cicatrização das úlceras. No entanto, na maioria das vezes, recorre-se obrigatoriamente à antibioterapia, tendo em conta, como é óbvio, a gravidade da infeção.
Por último, deverá saber que o pé diabético, em geral, e as úlceras em particular, exigem muita persistência e paciência com observação atenta da sua evolução! Por isso, os doentes com estas patologias devem ser seguidos na consulta do pé diabético, no respetivo Centro de Saúde. Mas, na farmácia, deverão ser também acompanhados pelas equipas de farmacêuticos e enfermeiros de forma a serem rastreados atempadamente e prevenidas as complicações. Na farmácia Castro, em Gondomar, temos uma equipa ao seu dispor!
Bibliografia
– Cuide dos pés. APDP. Acessível em https://apdp.pt/material-educacional/cuide-dos-pes/ [acedido em 2 de Outubro de 2019].
– El pie diabético: 10 consejos imprescindibles para su cuidado. Colegio de Farmacéuticos de Sevilla. Acessível em http://www.farmaceuticosdesevilla.es/blog/el-pie-diabetico-10-consejos-imprescindibles-para-su-cuidado_aa824.html [acedido em 2 de Outubro de 2019].
-Grennan D. Diabetic Foot Ulcers. JAMA. 2019;321(1):114. doi:10.1001/jama.2018.18323.
– Organização de cuidados, prevenção e tratamento do Pé Diabético, orientação da DGS, 003/2011. Acessível em https://www.dgs.pt/programa-nacional-para-a-diabetes/circulares-normas-e-orientacoes/orientacao-da-direccao-geral-da-saude-n-0032011-de-21012011-pdf.aspx [acedido em 2 de Outubro de 2019].
– Pé Diabético. Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes (PNPCD) Circular normativa. Nº:05/PNPCD, DATA:22/03/2010.
